Fundador de Mairinque foi um dos homens mais ricos do Brasil e dono dos estúdios Globo

Fundador De Mairinque Foi Um Dos Homens Mais Ricos Do Brasil E Dono Dos Estúdios Globo
Conselheiro Francisco de Paula Mayrink.

Coluna O Informante, por Igor Juan – Nesta coluna vamos falar brevemente da história do fundador de Mairinque, Conselheiro Francisco de Paula Mayrink. É de suma importância falar sobre e manter viva da história da cidade, bem como levar conhecimento a geração atual e futura.

Com o passar do tempo, as relevantes biografias de pessoas que contribuíram para o desenvolvimento regional, caíram no esquecimento, simplesmente jazem com o próprio corpo, o que tristemente empobrece a cultura local. Em Mairinque e em tantas outras cidades do interior, percebo que é pouca, ou quase nenhuma, a manutenção de suas próprias histórias, tampouco da biografia de seus ilustres cidadãos. Por exemplo: sua rua tem um nome, mas você sabe a história do nome de sua rua?

Em outubro de 2024, completa-se 42 anos do translado do corpo do fundador do Município de Mairinque, o Conselheiro Francisco de Paula Mayrink, banqueiro, empresário, político e presidente da extinta companhia Estrada de Ferro Sorocabana, que deu origem à antiga vila de operários, a “Vila Mayrink”. Mas quem foi Mayrink? Inaugurando esta coluna, trago um pouco de sua biografia, uma verdadeira história de Mayrink, para Mairinque, para quem sabe, ser ponto de partida para se trazer tantas outras interessantes histórias.  

Francisco de Paula Mayrink nasceu no Rio de Janeiro, em oito de dezembro de 1839, filho do camarista José Carlos Mayrink e Maria Emília Teixeira Bernardes, irmão do Visconde Mayrinck e de Clara Margarida

Um menino muito esperto, que muito novo já trabalhava em uma loja de fazendas de um comerciante local. Seu pai o enviou para a Escola Militar de Porto Alegre, mas dois anos depois, abandonou a carreira militar e foi estudar na Escola Politécnica do Rio de Janeiro.  

O jovem Mayrink decidiu abandonar os estudos, e ingressou como escrevente numa instituição financeira, onde seu pai foi um dos fundadores, o Banco Comercial do Rio de Janeiro. Ali, encontrou sua vocação para os assuntos financeiros, ascendendo rapidamente na hierarquia dos cargos do banco, sendo eleito diretor no ano de 1876. 

Seu destaque dentro da instituição financeira foi tão grande, que não demorou muito para ser notado por financistas e empresários influentes, sendo então chamado para salvar a Estrada de Ferro Sorocabana – EFS, que já se encontrava em intenso declive financeiro, causados pelos autos investimentos feitos pelo então presidente demitido, Luis Matheus Mailasky.   

Ao assumir a companhia ferroviária em 15 de maio de 1880, logo realizou uma ampla auditoria interna, e convencido que o café poderia levar a ferrovia ao sucesso, decidiu expandir os trilhos na direção de Botucatu, atingindo regiões cafeeiras, chegando até Assis, que abrigava as oficinas e também incorporou a Estrada de Ferro Ituana. 

A companhia, presidida por Mayrink logo iniciou obras de construção de um entroncamento ferroviário, numa fazenda adquirida de Manuel da Costa Nunes, o Manduzinho, com uma estação ilha, projeção dos engenheiros da ferrovia para interligar as linhas vindas de itu a Sorocaba e a promissora linha que chegaria a Santos. Com isso, a companhia reservou áreas para suas futuras oficinas e loteou o entorno, primeiramente para abrigar seus operários. 

Em 27 de outubro de 1890, a companhia fundou às margens da Estrada de Ferro Sorocabana, uma pequena vila, mas somente em 1897, com a inauguração da linha para Itu, a estação recebeu o nome de Mayrink, como forma de homenagear o presidente da EFS, assim, “Vila Mayrink” é como passou a ser conhecida a pequena vila de operários.  

Mas Francisco era um grande empreendedor, não ficou só na EFS, dirigiu a Companhia da Colonização Agrícola, foi acionista majoritário da Companhia Frigorífica, do Moinho Fluminense, da Empresa Açucareira de Pernambuco, da Estrada de Ferro Bahia e Minas, da Estrada de Ferro de Santos/Jundiaí, da Brasileira de Navegação e de várias empresas de bondes do Rio de Janeiro e São Paulo. 

Ele também foi acionário em obras públicas no Rio e Santos, mineradoras em Minas Gerais, fábrica têxtil em Sorocaba, diretor do Lloyd Brasileiro, fundou o Banco de Crédito Real Misto, crio a Companhia Grande Hotel Internacional.

Além disso, foi proprietário do Palácio do Catete, vice-presidente do Clube de Engenharia, fundador benemérito da Sociedade Braseira de Geografia, cônsul do Chile e fundador da coleção do Museu Paulista.  

Com tantos negócios consolidados, Mayrink ficou dotado da maior fortuna da época no Brasil. Muitos foram os empreendimentos criados por Mayrink, que além de lhe aliar riquezas, também levou progresso em várias localidades dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e até mesmo em regiões do nordeste. 

No ano de 1884, casou-se com Maria José Paranhos, filha do Visconde do Rio Branco, viúva de seu primo-irmão, filho da Marquesa de Itamarati. Ingressou na política, sendo deputado da primeira Assembleia Constituinte da República, onde foi protagonista de grandes embates com seu rival, o Conde de Figueiredo, cujos discursos estão registrados na história do parlamento nacional. 

O Jornal “O Globo” e “O País” foram criados por iniciativa do Conselheiro, ou seja, era um dos fundadores e donos dos jornais. Também possuía uma vasta área na Floresta da Tijuca, da qual fazia parte a famosa “Capelinha Mayrink”, que já foi utilizada em gravações, programas, novelas, batizados e casamentos de famosos. Mayrink morava em um rico palacete na atual Rua General Canabarro, no bairro carioca de São Cristóvão.

Mas, somente um dia após a Proclamação da República, em 16 de novembro de 1889, Mayrink foi preso junto com diversas outras pessoas influentes, por supostamente serem apoiadores da restauração da monarquia no Brasil, mas liberado no mesmo dia. O Conselheiro faleceu em 31 de dezembro de 1906 e seu corpo foi sepultado no Cemitério São Francisco Xavier, no Rio de Janeiro.  

Capela Mayrink Rio De Janeiro Do Fundador De Mairinque
Capela Que Foi Casa Do Fundador De Mairinque, Onde Hoje É Os Estúdios Globo No Rj.

O translado do corpo de Francisco de Paula Mayrink para cidade de Mairinque

No ano de 1982, o então prefeito de Mairinque, Antonio Alexandre Gemente, em contato com familiares do Conselheiro, conseguiu autorização para exumar e transladar seus restos mortais. Na chegada ao Município, houve uma cerimônia jamais vista, com a presença do 2º Regimento de Artilharia Auto Propulsada.

Nesta mesma ocasião, um museu foi inaugurado no Horto Florestal, com a exposição de objetos cedidos pela família de Mayrink, como documentos, igaçabas, sua farda e espada oficial, jogos de chá, café e jantar com o brasão da família em ouro. Lamentavelmente, este museu foi saqueado anos depois, e o paradeiro desses objetos é desconhecido até hoje. Pelo feito do translado e homenagens. Gemente, prefeito a época, recebeu a Medalha do Mérito da Integração Nacional, outorgada pela Sociedade Brasileira de Heráldica e Medalhística.

Nas intensas comemorações do centenário do Município de Mairinque, agora sem “y” e “k”, soldados de artilharia mecanizada de Itu, soldados da Aeronáutica, de São Roque e a Banda dos Fuzileiros Navais do Rio de Janeiro, com tanques de guerra e carros anfíbios marcharam pelas principais vias do município, em honra ao Conselheiro Mayrink e em comemoração aos 100 anos da fundação da “Vila Mayrink”.

Seus restos mortais descansam inumados em um mausoléu na “Praça das Bandeiras”, ao lado do Paço Municipal, e é aberto para visitações.

Contudo, vale destacar que a história é ainda mais robusta, mas este simples arrasto biográfico prova que precisamos intensificar as políticas culturais, no sentido de reviver os importantes acontecimentos da história dos municípios, que com o tempo podem morrer igualmente a seus protagonistas.