Taxa de mortalidade alta e aumento considerável no número de casos, o Nipah preocupa a OMS, que tenta erradicá-lo o quanto antes
22 de janeiro de 2021 l Atualização: 22 jan 2021 às 21:15
Um novo tipo de vírus vem preocupando a Organização Mundial da Saúde, fazendo com que ela já o registre como próximo vetor de pandemias a ser combatido. Trata-se do vírus Nipah, também com origem na Ásia, que assim como a COVID-19, começa a registar algumas mortes no continente.
Assim como o coronavírus, o Nipah vem sendo estudado pelo Centro de Ciências da Saúde e de Doenças Infecciosas Emergentes da Cruz Vermelha tailandesa, em Bangcoc, sob a direção da cientista Supaporn Wacharapluesadee. A responsabilidade desse Centro de Ciências é estudar vírus com potencial para matar humanos em massa.
E esse novo vírus em potencial é o Nipah, que já está preocupando a cientista tailandesa. Por ser um continente de clima tropical, a Ásia apresenta condições propícias para o surgimento e proliferação de diversos tipos de patógenos, principalmente vírus. O contato de muitos humanos com os animais silvestres é o condutor necessário para que aconteça uma contaminação, sobretudo por doenças exóticas.
O principal transmissor dessas doenças são os morcegos. Os estudos da cientista tailandesa revelaram, que além da COVID-19, esses animais são verdadeiras ”bombas biológicas” que carregam muitas espécies de vírus mortais que a Ciência desconhece tratamento, e o Nipah é um deles.
A taxa de letalidade dessa nova espécie é entre 40% e 75%, e já é alvo de investigações da OMS, que já começa a avaliar se o Nipah pode ou não ser perigoso, para já criar um fundo de desenvolvimento de pesquisa para uma possível cura.
O primeiro surto de Nipah aconteceu na Malásia, quando algumas pessoas tiveram contato com porcos contaminados. Ao contrário do coronavírus, que tem período de incubação de 14 dias, uma pessoa pode manifestar o Nipah, após ter contato com o vírus em 45 dias. Esse tempo grande de inatividade permite a ele migrar de hospedeiro em hospedeiro, se alastrando muito rapidamente, antes que a pessoa manifeste os primeiros sintomas.
O que torna esse vírus tão perigoso é o fato dele poder causar encefalite, ou inchaço no cérebro, levando a vítima a ter convulsões, e em seguida, óbito. Um dos possíveis locais que pode ser um ponto de origem para a infecção é a cidade de Battambang, no Camboja.
Na cidade, as feiras livres são bastante comuns, mas o que preocupa é o local onde as barracas são feitas, em regiões com muitas árvores, que são habitats de morcegos comedores de fungos, principais vetores do Nipah, que aproveitam as lonas como seu ”banheiro particular”. Em contato com as fezes e urina desses animais, há uma chance enorme de alguma pessoa contrair o vírus.
“Pessoas e animais caminham sob os poleiros, expostos à urina de morcego todos os dias”, diz Veasna Duong, chefe da unidade de virologia do laboratório de pesquisa científica Instituto Pasteur em Phnom Penh e colaborador de Wacharapluesadee.
Na própria Tailândia há vários templos religiosos que foram construídos perto de áreas onde os morcegos vivem, e que são focos potenciais para a proliferação do Nipah. Casos também foram registrados na Índia e em Bangladesh, quando algumas pessoas beberam suco de tâmaras, que eram frequentemente lambidas pelos morcegos, à noite. Também preocupa o fato de que os moradores desses países usam as fezes de morcegos como fertilizantes.
O contato dos humanos com os morcegos não seria tão frequente, se as florestas onde moram fosse mais preservada. A destruição das florestas tropicais pelo Homem, faz com que os animais tenham que dividir seu habitat com o desenvolvimento das cidades.
“A disseminação desses patógenos e o risco de transmissão aceleram com mudanças no uso da terra, como desmatamento, urbanização e ampliação do uso de terras para a agricultura”, explicam os pesquisadores Rebekah J White e Orly Razgour em um artigo de 2020 da Universidade de Exeter, no Reino Unido, sobre doenças zoonóticas (que são transmitidas de animais para pessoas) emergentes.
Cientistas já descobriram que os morcegos liberam mais vírus quando estão sob estresse. A combinação de serem forçados a se mudar e estarem em contato próximo com uma espécie com a qual eles normalmente não interagiriam permitiu que o ciclo de contaminação do Nipah surgisse. Os morcegos acabam mordendo os animais de fazendas, que muitas vezes são consumidos pelos humanos. Os morcegos frugívoros tendem a viver em regiões de floresta densa, com muitas árvores frutíferas para se alimentar.
Acabar com os morcegos não é solução para o problema de surgimento de pandemias, como Ebola, COVID-19 e Nipah. Esses animais são peças muito importante na cadeia alimentar, polinizando flores e comendo insetos que transmitem outras doenças, como a malária.
O novo vírus ainda é cercado de muitos mistérios, principalmente no comportamento entre os morcegos fngívoros, em relação à ação humana. Diversos outros pesquisadores de vários países estão numa luta constante para estudar a doença antes que ela comece a se alastrar. Inclusive, já se sabe que o Nipah pode ser usado como arma biológica em guerras.
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