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A história do segundo maior patrimônio de Mairinque

Tarcísio Lourençon

12 de agosto de 2020 - Atualizado: 12 dez 2021 às 23:38

Políticos da região já se preparam para a eleição municipal de 2020, e logo que ocorram as convenções partidárias, será dada a largada para que as campanhas eleitorais se iniciem. Com isso, temas importantes como saúde, segurança pública, educação e outros, tomam dianteira nos debates da classe política, onde as melhores propostas apresentadas ao eleitorado, podem definir o rumo dos resultados nas urnas. 

Já parou pra perceber que nas campanhas, alguns assuntos nunca “saem de moda”? Obras inacabadas, patrimônios abandonados e escândalos de corrupção com certeza são os mais discutidos. Na região, Mairinque é a cidade que mais destaca esses temas problemáticos. É ponte de que liga “nada a lugar nenhum”, rodoviária inacabada, hospital fechado, Rodovia Mario Covas desabando, falta de acesso aos bairros Vila Barreto e Granada, enfim, são muitos os problemas, mas se tem um “queridinho” nos embates, com certeza é o Horto Florestal, e nesta coluna, irei resumir toda sua história, para juntos entendermos o porquê de ser o centro das atenções neste período de eleição.   

O Horto Florestal fazia parte da gleba de aproximadamente 256 alqueires, que o Estado adquiriu no final do século XVIII de proprietários locais, grande parte das chamadas “terras do Manduzinho“, apelido de Manuel da Costa Nunes. A aquisição foi necessária para desenvolver o plano de expansão da EFS, com a construção da estação, o pátio de manobras, oficinas, depósitos, residências para os operários e outros setores da ferrovia.  

A mata que circundava as construções da ferrovia foi totalmente devastada, e a companhia ferroviária se viu obrigada a fazer o replantio destas áreas, de modo a garantir o abastecimento de lenha para as locomotivas a vapor, bem como manter a região com significativa reserva florestal. A Sorocabana de 1934 a 1955, teve que adotar esta mesma prática em várias outras localidades, e por isso, várias cidades têm áreas de floresta próximo das antigas ferrovias.  

Para o replantio, a EFS utilizava mudas de eucalipto e cedrinho, as quais eram semeadas em um viveiro, num galpão que ficava próximo ao casarão. Feijão e milho eram plantados para alimentação dos animais utilizados no transporte de lenha e carroças. Existiam algumas casas no local, construídas de “pau-a-pique” e madeira, sem energia elétrica e água encanada. Um tanque era utilizado para regar as mudas do viveiro, abastecer as casas e para servir os animais. 

Com a implementação de outras tecnologias de tração ferroviária, com locomotivas a eletricidade e eletrodiesel, a EFS e posteriormente a FEPASA, diminuíram seus investimentos na manutenção do Horto. Foi então que em 1973, o prefeito João Chesine decidiu adquirir a gleba de 200,68 alqueires, através da Lei nº 541/73 e o Decreto nº 842/73, do Governo do Estado de São Paulo. Em parte da área do Horto Florestal, a Prefeitura instalou suas oficinas mecânicas, estacionamento de veículos e o almoxarifado.   

Curiosidade: Na aquisição, era estimado que o Horto Florestal contivesse mais de 4.000 pés de várias espécies de árvores. 

Na década de 90, já na administração Antonio Alexandre Gemente, o Horto Florestal recebeu uma ampla revitalização, com a reforma do casarão, onde residiu o engenheiro da EFS Dr. Jonas Zabroski, reforma do antigo escritório, casa de vigia e da capelinha, além do ajardinamento, plantio de árvores e pavimentação da via de acesso.  No casarão foi implantado o Museu Conselheiro Francisco de Paula Mayrink, com a exposição de objetos pessoais do fundador (espada, farda, documentos, etc), fotografias, jogos de jantar, quadros, entre outros objetos que remontavam a fundação da Vila Mayrink e as ligações históricas com a ferrovia. Ao lado do casarão, ficava exposta a locomotiva a vapor revitalizada por ferroviários e funcionários da prefeitura, liderada pelo Sr. Oride Gemente (Hoje denominada Cecília, exposta no centro da cidade). 

Entre 2001 e 2004, administração também de Gemente, o Horto precisou de manutenção, e logo após passou a receber atividades culturais e esportivas. Campeonatos de bike, que agregavam as modalidades 4X Down Hill, Bike Trial, Flat, Dirt e Free Trials, eram constantemente realizadas e reuniam muitas pessoas e atletas de várias localidades.  

Anos depois, o Horto sofreu com a deterioração e a falta de investimentos do poder público, e após muita cobrança da população, o então prefeito Dennys Veneri executou uma revitalização parcial, em meados de 2008, onde teve implantado um portal em homenagem à imigração japonesa e foi denominado “Parque Antonio Anselmo”. Nesta mesma época, o Horto foi devastado por uma grande enchente, que ilhou moradores locais e forçou a prefeitura a transferir suas oficinas, estacionamento e almoxarifado para a antiga fabrica D’oro (Jardim Cruzeiro). Até o “Proteste Já” com o Oscar Filho do CQC, extinto programa da Rede Bandeirantes, esteve no local para cobrar da prefeitura uma solução para a enchente que acometia o Horto Florestal.   

Em 2016, o Prefeito Rubens Merguizo solicitou da Câmara Municipal, autorização para o recebimento de R$ 3 milhões, vindos do Fundo Estadual de Defesa dos Direitos Difusos – FID, para aplicar em obras no Horto. Porém, os vereadores identificaram irregularidades que inviabilizavam o projeto, como a não apresentação de planilhas de custo e falta de especificações das obras que a prefeitura pretendia realizar, pois se tratando de um patrimônio histórico, as obras deveriam levar em consideração critérios técnicos de revitalização, objetivando a preservação e a manutenção das características originais dos imóveis, e por isso, foi rejeitado pelo colegiado.  

Desde então, o Horto Florestal, praticamente abandonado, sofre com diversas ações criminosas, como furtos, depredação e incêndios, que destoem muito mais que o patrimônio público – destroem parte da história de Mairinque. Recursos vindos do Governo Federal, que passam de R$ 1 milhão, já foram empregados na criação de um espaço de eventos, no antigo almoxarifado, hoje parcialmente terminado e sem uso.  

Ao ver fotos e vídeos de como era belo nosso Horto Florestal, com museu, maria fumaça, lago e tantas outras belezas naturais, fico triste em ver o atual cenário e enfurecido com essas pífias discussões políticas. Se hoje o Horto esta assim, procurar culpados não resolverá nada! O único jeito é olhar para o passado e ter esperança no futuro, e ponto final. 

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